Aljubes de Monforte da Beira – o uso de metais na Idade do Ferro

A Geodiversidade da freguesia de Monforte da Beira reflecte-se essencialmente num rico património geomineiro, dada a abundância de recursos minerais explorados na antiguidade na serra de Monforte, como o ferro e o ouro, no contexto da crista quartzítica e a quantidade de vestígios antigos de metalurgia encontrados. “A Praça de Cima, junto da igreja, cujo pavimento, antes do actual calcetamento, era constituído por terreno que incluía abundantes escórias metálicas”, demonstra a magnitude dos processos metalúrgicos antigos na região. O Património Geomineiro de Monforte da Beira é constituído por minas proto-históricas incluídas no Inventário de Património Geológico e Geomineiro do Geopark Naturtejo na categoria de “recursos minerais/minas (mineração antiga de ferro)”. O seu valor intrínseco é científico, didáctico, ecológico, estético e cultural.

O vigário de Monforte, Manuel Rodrigues Siborro, descrevia assim os vestígios de mineração e metalúrgia antigas, em 1758: “Há vestígios, em algumas partes, de se fabricar, em alguns tempos, ferro, por que se acham escumalhas do mesmo ferro.” (…) “Tem a serra concavidades em várias partes, como são a casa chamada Lapa de Baixo do Chão, feita em um penhasco, que só tem uma boca por entrada, outra chamada a Casa Subterrânea, da mesma factura, dois fossos mais, que se lhe não pode investigar o fundo, que lançando-lhe para dentro uma pedra foi bastante tempo fazendo grande soido.” No que diz respeito à mineração antiga, a indústria do ferro remonta a 1700 a.C., desenvolvida pelos Hititas, e chega à Península Ibérica no séc. V a.C., tendo Moncayo (Catalayud) e Turiasson (Tarazona) como referências principais, com fama entre os romanos. Apesar dos minerais de ferro serem bastante evidentes no interior das minas de Monforte da Beira, outros minerais metálicos poderão ter sido aqui explorados desde o Bronze Final à Idade do Ferro e ao período Romano. A mineralização de ouro ocorre na região associada a cavalgamentos e falhas inversas com reactivações tardias, com orientações NE-SW a N-S e NW-SE. O ouro nativo ocorre em veios irregulares ou associados a processos de enriquecimento supergénico que produziram a transformação da pirite em óxidos de ferro. Na vizinha Extremadura, minas deste tipo têm teores em ferro em torno dos 10%, com teores baixos de ouro e prata.

Identificado em 1908 por Francisco Tavares Proença Júnior, o Castro do Castelo data do Bronze Final (1000-800 a.C.) ao início da II Idade do Ferro (400-200 a.C.), encontrando-se ainda abundantes vestígios de cerâmica do período Bronze Final-Romano. O espaço ocupado pelo povoado situava-se imediatamente a sul do ponto mais alto da serra de Monforte neste sector, abrangendo uma vasta panorâmica em todos os sentidos e apresentando defesas naturais voltadas a Norte. Estende-se num suave declive voltado a sudoeste dividido em duas plataformas. Os achados efectuados na sua proximidade, de bronze, ouro e prata, nomeadamente: uma bracelete de ouro martelado a partir de um lingote fundido, com 198, 5 g, datado do Bronze Final; mais de 800 denários republicanos; uma xorca de ouro de fios entrançados com 166,1 g, datada do Ferro Recente e 4 xorcas de prata, com um peso entre 64,8-169,2 g, datadas do mesmo período (actualmente expostos na Sala dos Tesouros da Arqueologia Portuguesa, no Museu Nacional de Arqueologia); além de 112 denários republicanos, entre outros nomeadamente escórias de fundição, permitem elucidar sobre as actividades económicas desenvolvidas no Castro do Castelo, nomeadamente lanifícios, agricultura e a metalurgia do bronze, ferro, ouro e prata. Na área do castro encontra-se uma pequena mina composta por galeria com um diâmetro de 60 cm que se estende por mais de 3 m visíveis, sem que se conheça o seu desenvolvimento. Parece ser uma galeria de prospecção semelhante a outras que se encontram nas frentes de exploração do interior dos “aljubes”. Tal como na Sierra de Aljibe este poderá ter sido um povoado relacionado com a vigilância e exploração de jazigos minerais, pelo menos, desde o Bronze Final.